quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fernando Pessoa




"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."




"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"




"Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar com o que eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar."







    Não: não digas nada
    Supor o que dirá
    A tua boca velada
    É ouvi-lo já
    É ouvi-lo melhor
    Do que o dirias.
    O que és não vem à flor
    Das frases e dos dias.
    És melhor do que tu.
    Não digas nada: sê!
    Graça do corpo nu
    Que invisível se vê.

Fernando Pessoa