quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Fernando Pessoa




 Clareia cinzenta a noite de chuva

Clareia cinzenta a noite de chuva, 
Que o dia chegou. 
E o dia parece um traje de viúva 
Que já desbotou.
Ainda sem luz, salvo o claro do escuro, 
O céu chove aqui, 
E ainda é um além, ainda é um muro 
Ausente de si.

Não sei que tarefa terei este dia; 
Que é inútil já sei... 
E fito, de longe, minha alma, já fria 
Do que não farei. 

Fernando Pessoa