Roteiro para um Passeio ao Inferno
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Sim, eu os chamarei, claro, se bem que agora um novo frio em meu coração me previna de um medo que antes não tinha. Jamais pensara, em todos aqueles ciclos, círculos e circuitos, rodando, rodando, rodando, que Eles pudessem simplesmente não me notar, como um homem poderia deixar de notar um gatinho dormindo ou um cachorrinho cego escondido sob a dobra de sua manta malcheirosa. Por que haveriam de notar uma balsa no mar imenso? Mas não há nada a fazer senão continuar, sem remo, sem leme, sem dormir, exausto. Afinal,sei que seria bondade aportar na praia de Nancy e dizer-lhe que seu Charlie afinal encontrou algo – mas o quê? Eles, suponho, embora nem mesmo possa lhe dizer como se sentiu ao ser absorvido por aquela Coisa brilhante. Ela me cantará sua canção, eu em minha balsa, passando à deriva; as mulheres se alinharão pelos muros dos jardins de verão cantando, e então cantarei que é passado o tempo do amor? E depois encontrarei o amigo de George e lhe gritarei que George – o quê? E onde? E depois e adiante, até tornar a ver minha Conchita me esperando, vestida de freira, levada a isso por todas as minhas viagens e navegações.O homem, como uma grande árvore,
Ressente as tormentas.
Braços, joelhos, mãos,
Muito duros para o amor,
Como uma árvore resiste ao vento.
Mas, desperta de vagar,
E no bosque escuro
O vento parte as folhas
E a fera negra arremete da caverna.
Meu amor, quando dizes:
“Aqui esteve a tormenta,
Aqui esteve ela,
Aqui, a fera fabulosa”,
Dirás também
Que primeiro nos beijamos de lábios fechados, temerosos,
Como se um pássaro dormisse entre elas?
Dirás:
“Foi o passarinho branco que me prendeu?”
E assim ela canta, cada vez que passo, rodando, rodando, e continuando sempre.
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