quinta-feira, 24 de março de 2011

Franz Kafka

A Metamorfose 
(…)
— Incomoda-os o som do violino, meus senhores? Se incomoda, paro agora.
Pelo contrário — replicou o hospede do meio —, não poderá a Menina Samsa
vir tocar ali para a sala ao pé de nós? Sempre é mais apropriado e está-se muito
melhor.
— Oh, com certeza — respondeu o pai de Gregório, como se fosse ele o
violinista.
Os hóspedes regressaram à sala de estar, onde ficaram à espera.
Imediatamente apareceu o pai de Gregório com a estante de música, a mãe com a
partitura e a irmã com o violino. Grete fez silenciosamente os preparativos para
tocar. Os pais, que nunca tinham alugado ‚quartos e por esse motivo tinham uma
noção exagerada da cortesia devida aos hóspedes, não se atreveram a sentar-se
nas próprias cadeiras. o pai encostou-se à porta, com a mão direita enfiada entre
dois botões do casaco, cerimoniosamente abotoado até acima. Quanto à mãe, um
dos hóspedes ofereceu-lhe a cadeira, onde se sentou a uma borda, sem sequer a
mexer do sítio onde ele a colocara.
A irmã de Gregório começou a tocar, enquanto os pais, sentados de um lado
e doutro, lhe observavam atentamente os movimentos das mãos. Atraído pela
música, Gregório aventurou-se a avançar ligeiramente, até ficar com a cabeça
dentro da sala de estar. Quase não se surpreendia com a sua crescente falta de
consideração para com os outros; fora-se o tempo em que se orgulhava de ser
discreto. A verdade, porém, é que, agora mais do que nunca, havia motivos para
ocultar-se: dada a espessa quantidade de pó que lhe enchia o quarto e que se
levantava no ar ao menor movimento, ele próprio estava coberto de pó. Ao deslocarse, arrastava atrás de si cotão, cabelos e restos de comida que se lhe agarravam ao
dorso e aos flancos. A sua indiferença em relação a tudo era grande de mais para
dar-se ao trabalho de deitar-se de costas e esfregar-se no tapete, para se limpar,
como antigamente fazia várias vezes ao dia. E, apesar daquele estado, não teve
qualquer pejo em avançar um pouco mais, penetrando no soalho imaculado da sala.
Era evidente que ninguém se apercebera da sua presença. A família estava
totalmente absorta no som do violino, mas os hóspedes, que inicialmente tinham
permanecido de pé, com as mãos nos bolsos, quase em cima da estante de música,
de tal maneira que por pouco poderiam ler também as notas, o que devia ter
perturbado a irmã, tinham se logo afastado para junto da janela, onde sussurravam
de cabeça baixa, e ali permaneceram até que o Senhor Samsa começou a fitá-los
ansiosamente. Efetivamente, era por de mais evidente que tinham sido
desapontadas as suas esperanças de ouvirem uma execução de qualidade ou com
interesse, que estavam saturados da audição e apenas continuavam a permitir que
ela lhes perturbasse o sossego por mera questão de cortesia. Adivinhava-se-lhes a
irritação pela maneira como sopravam o fumo dos charutos para o ar, pela boca e
pelo nariz. Grete estava a tocar tão bem! Tinha o rosto inclinado para o instrumento
e os olhos tristes seguiam atentamente a partitura. Gregório arrastou-se um pouco
mais para diante e baixou a cabeça para o chão, a fim de poder encontrar o olhar da
irmã. Poderia ser realmente um animal, quando a música tinha sobre si tal efeito?
Parecia abrir diante de si o caminho para o alimento desconhecido que tanto
desejava. Estava decidido a continuar o avanço até chegar ao pé da irmã e puxar-lhe pela saia, para dar-lhe a perceber que devia ir tocar para o quarto dele, visto que
ali ninguém como ele apreciava a sua música. Nunca a deixaria sair do seu quarto,

pelo menos enquanto vivesse. Pela primeira vez, o aspecto repulsivo seria de
utilidade: poderia vigiar imediatamente todas as portas do quarto e cuspir a qualquer
intruso. A irmã não precisava de sentir-se forçada, porque ficaria à vontade com ele.
Sentaria no sofá junto dele e inclinaria para confiar-lhe que estava na firme
disposição de matriculá-la no Conservatório e que, se não fosse a desgraça que lhe
acontecera, no Natal anterior — será que o Natal fora há muito tempo? — teria
anunciado essa decisão a toda a família, não permitindo qualquer objeção. Depois
de tal confidência, a irmã desataria em pranto e Gregório levantaria até se apoiar no
ombro dela e beijaria seu pescoço, agora liberto de colares, desde que estava
empregada.
— Senhor Samsa! — gritou o hóspede do meio ao pai de Gregório, ao mesmo
tempo que, sem desperdiçar mais palavras, apontava para Gregório, que lentamente
se esforçava por avançar. o violino calou-se e o hóspede do meio começou a sorrir
para os companheiros, acenando com a cabeça. Depois tomou a olhar para
Gregório. Em vez de enxotá-lo, o pai parecia julgar mais urgente acalmar os
hóspedes, embora estes não estivessem nada agitados e até parecessem mais
divertidos com ele do que com a audição de violino, Precipitou-se para eles e,
estendendo os braços, tentou convencê-los a voltarem ao quarto que ocupavam, ao
mesmo tempo que lhes ocultava a visão de Gregório. Nessa altura começaram a
ficar mesmo incomodados devido ao comportamento do velho o porque
compreendessem de repente que, tinham Gregório por vizinho de quarto. Pediramlhe satisfações, agitando os braços no ar como ele, ao mesmo tempo que confiavam
embaraçadamente as barbas, e só relutantemente recuaram para o quarto que lhes
estava destinado. A irmã de Gregório, que para ali se deixara ficar, desamparada,
depois de tão brusca interrupção da sua execução musical, caiu novamente em si,
endireitou-se rapidamente, depois de um instante a segurar no violino e no arco e a
fitar a partitura, e, atirando com o violino para o colo da mãe, que permanecia na
cadeira a lutar com um acesso de asma, correu para o quarto dos hóspedes, para
onde o pai os conduzia, agora com maior rapidez. Com gestos hábeis, compôs os
travesseiros e as colchas. Ainda os hóspedes não tinham chegado ao quarto, saía
pela porta fora, deixando as camas feitas.

(…)
Gregório não tivera a menor intenção de assustar fosse quem fosse, e muito
menos a irmã. Tinha simplesmente começado a virar-se, para rastejar de regresso
ao quarto, Compreendia que a operação devia causar medo, Pois estava tão
diminuído que só lhe era possível efetuar a rotação erguendo a cabeça e apoiandose com ela no chão a cada passo. Parou e olhou em volta. Pareciam ter
compreendido a Pureza das suas intenções, e o alarme fora apenas passageiro;
agora todos, em melancólico silêncio. A mãe continuava sentada, com as pernas
rigidamente esticadas e comprimidas uma contra a outra, com os olhos a fecharemse de exaustão. o pai e a irmã estavam sentados ao lado um do outro, a irmã com
um braço passado em torno do pescoço do pai.
Talvez agora me deixem dar a volta, pensou Gregório, retomando os seus
esforços. Não podia evitar resfolgar de esforço e, de vez em quando, era forçado a
parar, para recobrar o fôlego. Ninguém o apressou, deixando-o completamente
entregue a si próprio. Completada a volta, começou imediatamente a rastejar direito
ao quarto. Ficou surpreendido com a distância que dele o separava e não conseguiu
perceber como tinha sido capaz de cobri-la há pouco, quase sem o notar.
Concentrado na tarefa de rastejar o mais depressa possível, mal reparou que nem
um som, nem uma exclamação da família, lhe perturbavam o avanço. Só quando
estava no limiar da porta é que virou a cabeça para trás, não completamente, porque
os músculos do pescoço estavam a ficar perros, mas o suficiente para verificar que
ninguém se tinha mexido atrás dele, exceto a irmã, que se pusera de pé. o seu
último olhar foi para a mãe, que ainda não mergulhara completamente no sono.
Mal tinha entrado no quarto, sentiu fecharem apressadamente a porta  e
darem a volta à chave. O súbito ruído atrás de si assustou-o tanto que as pernas
fraquejaram. Fora a irmã que revelara tal precipitação. Tinha-se mantido de pé, à
espera, e dera um salto para fechar a porta. Gregório, que nem tinha ouvido a sua
aproximação, escutou-lhe a voz:
— Até que enfim! — exclamou ela para os pais, ao girar a chave na
fechadura.
— E agora?, perguntou Gregório a si mesmo, relanceando os olhos pela
escuridão. Não tardou em descobrir que não podia mexer as pernas. Isto não o
surpreendeu, pois o que achava pouco natural era que alguma vez tivesse sido
capaz de agüentar-se em cima daquelas frágeis perninhas. Tirando isso, sentia-se
relativamente bem. É certo que lhe doía o corpo todo, mas parecia-lhe que a dor
estava a diminuir e que em breve desapareceria. A maçã podre e a zona inflamada
do dorso em torno dela quase não o incomodavam. Pensou na família com ternura e
amor. A sua decisão de partir era, se possível, ainda mais firme do que a da irmã.
Deixou-se ficar naquele estado de vaga e calma meditação até o relógio da torre
bater as três da manhã. Uma vez mais, os primeiros alvores do mundo que havia
para além da janela penetraram-lhe a consciência. Depois, a cabeça pendeu-lhe
inevitavelmente para o chão e soltou-se-lhe pelas narinas um último e débil suspiro.
De manhã, ao chegar, a empregada, com toda a força e impaciência, batia
sempre violentamente com as portas, por mais que lhe recomendassem que o não
fizesse, pois ninguém podia gozar um momento de sossego desde que ela chegava,
não viu nada de especial ao espreitar, como de costume, para dentro do quarto de
Gregório. Pensou que ele se mantinha imóvel de propósito, fingindo-se amuado,
pois julgava-o capaz das maiores espertezas. Tinha à mão a vassoura de cabo
comprido, procurou obrigá-lo a pôr-se de pé com ela; empunhando-a à entrada da
porta. Ao ver que nem isso surtia efeito, irritou-se e bateu-lhe com um pouco mais de
força, e só começou a sentir curiosidade depois de não encontrar qualquer
resistência. Compreendendo-se repentinamente do que sucedera, arregalou os
olhos e, deixando escapar um assobio, não ficou mais tempo a pensar no assunto;
escancarou a porta do quarto dos Samsa e gritou a plenos pulmões para  a
escuridão:
— Venham só ver isto: ele morreu! Está para ali estendido, morto!
0 Senhor e a Senhora Samsa ergueram-se na cama e, ainda sem
perceberem completamente o alcance da exclamação da empregada,
experimentaram certa dificuldade em vencer o choque que lhes produzira. A seguir,
saltaram da cama, cada um do seu lado. 0 Senhor Samsa pôs um cobertor pelos
ombros; a Senhora Samsa saiu de camisa de dormir, tal como estava. E foi neste
preparo que entraram no quarto de Gregório. Entretanto, abrira-se também a porta
da sala de estar, onde Grete dormia desde a chegada dos hóspedes; estava
completamente vestida, como se não tivesse chegado a deitar-se, o que parecia
confirmar-se igualmente pela palidez do rosto.
— Morto? - perguntou a Senhora Samsa, olhando inquisidoramente para a
criada, embora pudesse ter verificado por si própria e o fato fosse de tal modo
evidente que dispensava qualquer investigação.
— Parece-me que sim — respondeu a criada, que confirmou a afirmação
empurrando o corpo inerte bem para um dos extremos do quarto, com a vassoura. A
Senhora Samsa fez um movimento como que para impedi-lo, mas logo se deteve.
— Muito bem — disse o Senhor Samsa —, louvado seja Deus.
— Persignou-se, gesto que foi repetido pelas três mulheres. Grete, que não
conseguia afastar os olhos do cadáver, comentou: — Vejam só como ele estava
magro. Há tanto tempo que não comia! Quando se ia buscar à comida, estava
exatamente como quando se tinha posto no quarto. — Efetivamente o corpo de
Gregório apresentava-se espalmado e seco, agora que se podia ver de perto e sem
estar apoiado nas patas.
— Chega aqui um bocadinho, Grete disse a Senhora Samsa, com um sorriso
trêmulo, A filha seguiu-os até ao quarto, sem deixar de voltar-se para ver o cadáver.
A empregada fechou a porta e abriu a janela de par em par. Apesar de ser ainda
muito cedo, sentia-se um certo calor no ar matinal. No fim de contas, estava-se já no
fim de Março.
Emergindo do quarto, os hóspedes admiraram-se de não ver o almoço
preparado. Tinham sido esquecidos.

— Onde está o nosso almoço? — perguntou sobranceiramente o hóspede do
meio à criada. Esta, porém, levou o indicador aos lábios e, sem uma palavra,
indicou-lhes precipitadamente o quarto de Gregório. Para lá se dirigiram e ali ficaram
especados, com as mãos nos bolsos dos casacos, em torno do cadáver de Gregório,
no quarto agora muito bem iluminado.
Nessa altura abriu-se a porta do quarto dos Samsa e apareceu o pai, fardado,
dando uma das mãos à mulher e outra à filha. Aparentavam todos um certo ar de
terem chorado e, de vez em quando, Grete escondia o rosto no braço do pai.
— Saiam imediatamente da minha casa! — exclamou o Senhor Samsa,
apontando a porta, sem deixar de dar os braços à mulher e à filha.
— Que quer o senhor dizer com isso? — interrogou-o o hóspede do meio, um
tanto apanhado de surpresa, com um débil sorriso. os outros dois puseram as mãos
atrás das costas e começaram a esfregá-las, como se aguardassem, felizes,  a
concretização de uma disputa da qual haviam de sair vencedores.
— Quero dizer exatamente o que disse respondeu o Senhor Samsa,
avançando a direito para o hóspede, juntamente com as duas mulheres.  0
interlocutor manteve-se no lugar, momentaneamente calado e fitando o chão, como
se tivesse havido uma mudança no rumo dos seus pensamentos.
— Então sairemos, pois, com certeza - respondeu depois, erguendo os olhos
para o Senhor Samsa, como se, num súbito acesso de humildade, esperasse que tal
decisão fosse novamente ratificada. 0 Senhor Samsa limitou-se a acenar uma ou
duas vezes com a cabeça e unia expressão significativa no olhar. Na circunstância,
o hóspede encaminhou-se, com largas passadas, para o vesti- bulo. Os dois amigos,
que escutavam a troca de palavras e tinham deixado momentaneamente de esfregar
as mãos, apressaram-se a segui-lo, como se receassem que o Senhor Samsa
chegasse primeiro ao vestíbulo, impedindo-os de se juntarem ao chefe. Chegados
ao vestíbulo, recolheram os chapéus e as bengalas, fizeram uma vênia silenciosa e
deixaram a casa. Com uma desconfiança que se revelou infundada, o Senhor
Samsa e as duas mulheres seguiram-nos até ao patamar; debruçados sobre  o
corrimão, acompanharam com o olhar a lenta mas decidida progressão, escada
abaixo, das três figuras, que ficavam ocultas no patamar de cada andar por que iam
passando, logo voltando a aparecer. no instante seguinte. Quanto mais pequenos se
tornavam na distância, menor se tornava o interesse com que a família Samsa os
seguia. Quando o rapaz do talho, subindo galhardamente as escadas com  o
tabuleiro à cabeça, se cruzou com eles, o Senhor Samsa e as duas mulheres
acabaram por abandonar o patamar e recolher a casa, como se lhes tivessem tirado
um peso de cima. Resolveram passar o resto do dia a descansar e dar mais tarde
um passeio. Além de merecerem essa pausa no trabalho, necessitavam
absolutamente dela. Assim,, sentaram-se à mesa e escreveram três cartas de
justificação de ausência: o Senhor Samsa à gerência do banco, a Senhora Samsa à
dona da loja para quem trabalhava e Grete ao patrão da firma onde estava
empregada. Enquanto escreviam, apareceu a empregada e avisou que iria sair
naquele momento, pois já tinha acabado o trabalho diário.
A princípio, limitaram-se a acenar afirmativamente, sem sequer levantarem a
vista, mas, como ela continuasse ali especada, olharam irritadamente para ela.

— Sim? — disse o Senhor Samsa. A criada sorria no limiar da porta, como se
tivesse boas notícias a dar-lhes, mas não estivesse disposta a dizer uma palavra, a
menos que fosse diretamente interrogada. A pena de avestruz espetada no chapéu,
com que o Senhor Samsa embirrava desde o próprio dia em que a mulher tinha
começado a trabalhar lá em casa, agitava-se animadamente em todas as direções.
— Sim, o que há? — perguntou o Senhor Samsa, que lhe merecia mais
respeito do que os outros.
— Bem — replicou a criada, rindo de tal maneira que não conseguiu
prosseguir imediatamente —, era só isto: não é preciso preocuparem-se com a
maneira de se verem livres daquilo aqui no quarto ao lado. Eu já tratei de tudo.
— 0 Senhor Samsa e Grete curvaram-se novamente sobre as cartas,
parecendo preocupados.Percebendo que ela estava ansiosa por começar a delatar
todos os por mais pequenas, o Senhor Samsa interrompeu-a com um gesto decisivo.
Não lhe sendo permitido contar a história, a mulher lembrou-se da pressa que
tinha e, obviamente ressentida, atirou-lhes um — Bom dia a todos — disse e girou
desabridamente nos calcanhares, afastando-se no meio de um assustador bater de
portas.
— Hoje à noite vamos despedi-la — disse o Senhor Samsa, mas nem a
mulher nem a filha deram qualquer resposta, pois a criada parecia ter perturbado
novamente a tranqüilidade que mal tinham recuperado. Levantaram-se ambas e
foram-se postar à janela, muito agarradas uma à outra. 0 Senhor Samsa voltou-se
na cadeira, para as observar durante uns instantes. Depois dirigiu-se a elas:
— Então, então! 0 que lá vai, lá vai. E podiam dar-me um bocado mais de
atenção. — As duas mulheres responderam imediatamente a este apelo,
precipitando-se para ele e acarinhando-o, após o que acabaram rapidamente as
cartas.
Depois saíram juntos de casa, coisa que não sucedia havia meses,  e
meteram-se num trem em direção ao campo, nos arredores da cidade. Dentro do
trem onde eram os únicos passageiros, sentia-se o calor do sol. Confortavelmente
reclinados nos assentos, falaram das perspectivas futuras, que, bem vistas as
coisas, não eram más de todo. Discutiram os empregos que tinham, o que nunca
tinham feito até então, e chegaram à conclusão de que todos eles eram estupendos
e pareciam promissores. A melhor maneira de atingirem uma situação menos
apertada era, evidentemente, mudarem-se para uma casa menor, que fosse mas
barata, mas também com melhor situação e mais fácil de governar que a anterior,
cuja escolha fora feita por Gregório. Enquanto conversavam sobre estes assuntos, o
Senhor e a Senhora Samsa notaram, de súbito, quase ao mesmo tempo,  a
crescente vivacidade de Grete, de que, apesar de todos os desgostos dos últimos
tempos, que a haviam tornado pálida, se tinha transformado numa bonita e esbelta
menina. 0 reconhecimento desta transformação tranqüilizou-os e, quase
inconscientemente, trocaram olhares de aprovação total, concluindo que se
aproximava a altura de lhe arranjar um bom marido. E quando, terminado o passeio,
a filha se pôs de pé antes deles, distendendo o corpo jovem, sentiram, com isso, que
aqueles novos sonhos e suas esperançosas intenções haviam de ser realizados.

FIM