quinta-feira, 17 de março de 2011

Florbela Espanca



CRISÂNTEMOS 

Sombrios mensageiros das violetas, 
De longas e revoltas cabeleiras; 
Brancos, sois o casto olhar das virgens 
Pálidas que ao luar, sonham nas eiras. 
Vermelhos, gargalhadas triunfantes, 
Lábios quentes de sonhos e desejos, 
Carícias sensuais d´amor e gozo; 
Crisântemos de sangue, vós sois beijos! 
Os amarelos riem amarguras, 
Os roxos dizem prantos e torturas, 
Há-os também cor de fogo, sensuais... 
Eu amo os crisântemos misteriosos 
Por serem lindos, tristes e mimosos, 
Por ser a flor de que tu gostas mais! 

CRAVOS VERMELHOS 

Bocas rubras de chama a palpitar, 
Onde fostes buscar a cor, o tom, 
Esse perfume doido a esvoaçar, 
Esse perfume capitoso e bom?! 
Sois volúpias em flor! Ó gargalhadas 
Doidas de luz, ó almas feitas risos! 
Donde vem essa cor, ó desvairadas, 
Lindas flores d´esculturais sorrisos?! 
 Bem sei vosso segredo...Um rouxinol...
Que vos viu nascer, ó flores do mal 
Disse-me agora: "Uma manhã, o sol, 
O sol vermelho e quente como estriga 
De fogo, o sol do céu de Portugal 
Beijou a boca a uma rapariga..." 



SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior  
Do que os homens! Morder como quem beija!  
É ser mendigo e dar como quem seja  
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!  
É ter de mil desejos o esplendor  
E não saber sequer que se deseja!  
É ter cá dentro um astro que flameja,  
É ter garras e asas de condor!  
É ter fome, é ter sede de infinito!  
Por elmo, as manhãs de ouro e de cetim...  
É condensar o mundo num só grito!  
   
E é amar-te, assim, perdidamente...  
É seres alma e sangue e vida em mim  
E dizê-lo cantando a toda a gente!