Hino à Razão
Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.
Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,
Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Palavras dum certo morto
Há mil anos, e mais, que aqui estou morto,
Posto sobre um rochedo à chuva e ao vento:
Não há como eu espectro macilento,
Nem mais disforme que eu nenhum aborto…
Só o espírito vive: vela absorto
Num fixo, inexorável pensamento:
“Morto, enterrado na vida!” o meu tormento
É isto só … do resto não me importo…
Que vivi sei-o bem … mas foi um dia,
Um dia só – no outro, a idolatria
Deu-me um altar e um culto … ai! adoram-me,
Como se eu fosse alguém! como se a Vida
Pudesse ser alguém! – logo em seguida
Disseram que era um Deus … e amortalharam-me!