sábado, 19 de fevereiro de 2011

Eugênio de Castro

Um Sonho

Na messe, que enlourece, estremece a quermesse…
O sol, o celestial girassol,esmorece…
E as cantinelas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos…

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros…
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves…

Flor! enquanto na messe estremece a quermesse
E o sol, o celestial girassol esmorece,
Deixemos estes sons tão serenos e amenos,
Fujamos, Flor! à flor destes floridos fenos…

Soam vesperais as Vêsperas…
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os rastros…

Como aqui se está bem! Além freme a quermesse…
- Não sentes um gemer dolente que esmorece?
São os amantes delirantes que em amenos
Beijos se beijam, Flor! à flor dos frescos fenos…

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros…
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras e sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves…

Esmaece na messe o rumor da quermesse…
- Não ouves este ai que esmaece e esmorece?
É um noivo a quem fugiu a Flor de olhos amenos,
E chora a sua morta, absorto, à flor dos fenos…

Soam vesperais as Vêsperas…
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros…

Penumbra de veludo. Esmorece a quermesse…
Sobre o meu braço lasso o meu Lírio esmorece…
Beijo-lhe os boreais belos lábios amenos,
Beijo que freme e foge à flor dos flóreos fenos…

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros…
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras e sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves…

Teus lábios de cinábrio, entreabe-os! Da quermesse
O rumor amolece, esmaece, esmorece…
Dá-me que eu beijoos teus morenos e amenos
Peitos! Romenos, Flor! à flor dos flóreos fenos…

Soam vesperais as Vêsperas…
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros…

Ah! não resistais mais a meus ais! Da quermesse
O atroador clangor, o rumor esmorece…
Rolemos, ó morena! em contactos amenos!
- Vibram três tiros à florida flor dos fenos…

As estrelas em seus halos
Brilham brilhos sinistros…
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves…

Três da manhã. Desperto incerto… E a quermesse?
E a Flor que sonho? e o sonho? Ah! tudo isso esmorece!
No meu quarto uma luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora, à flor dos flóreos fenos…