Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.
Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.
Sei que jamais hei de possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.
Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esp’rança,
Amar sem esp’rança é o verdadeiro amor.
Soneto
Numa das margens do saudoso rio
Contemplo a outra que sorri defronte:
Lá, que sob o sol que baixa no horizonte,
Verdes belezas, enlevado, espio.
- “Ali(digo eu), será menos sombrio
O viver que me põe rugas na fronte…”
E, erguendo-me, atravesso então a ponte,
Onde o vento sibila, áspero e frio.
Chego. Desilusão! Da margem verde,
Eis que o encanto, de súbito, se perde:
Bem mais bela era a margem que eu deixei!
Quero voltar atrás. Noite fechada…
E a ponte, pelas águas destroçada,
Por mais que a procurasse, não a achei!